quarta-feira, 18 de julho de 2007

Um ser político

Poderia começar este bloco com aquele poema do Bertold Brecht, O Analfabeto Político, mas olhem só, que coisa é de se falar ou de se escrever, que um poema como este está batido.
E como fica, quando um candidato do PMN, nessas últimas eleições, dizê-lo em seu horário de propaganda? E se estou bem lembrada, nem o autor ele citou.
Será que o Bertold deu umas reviravoltas?
Sei que existem grandes diferenças entre nós, eu e o candidato, mas, será que não daria comigo, também, por eu ter tido a intenção de usá-lo?
Que dê, pois farei uso de um trecho de uma outra poesia dele.


Aos que virão depois de nós (trecho)

Eu queria ser um sábio.
Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:

Manter-se afastado dos problemas do mundo
e sem medo passar o tempo que se tem para
viver na terra;
Seguir seu caminho sem violência,
pagar o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.
Sabedoria é isso!
Mas eu não consigo agir assim.
É verdade, eu vivo em tempos sombrios!

Bertold Brecht

**************************************

P O L Í T I C A

Idealistas:
Elementos radioativos
Sete cores

dançam em círculos

**************************************

DALTÔNICOS
Há quem diga que os nobres têm sangue azul
Sou mais adepta dos ecologistas de sangue verde.

**************************************

Eu sou livre? – Não, não sou.
Você é livre? – Não meu amigo, você não é.
E quem te fez assim? Preso, conformado?

**************************************

DEMOCRACIA

É obrigatório o voto
É a forma de governo
A monarquia perde
E o palácio ocupa-se de outros


**************************************

As estrelas caem em flocos de neve
Caem a derreter-se
em corpos quentes da noite
Vindos do sol,
compõem lamentos azuis.

Longe, afastados
Negros na plantação
Catam bolinhas brancas
de uma fome à outra.


**************************************

Alegre com os passantes, assim vai...
Pedinte dos restos, sobras de dias
À beira das pedras. À altura das nuvens
Lá está ela, à espera dum convite para o café.

**************************************

As caras dos codinomes políticos,
Pensem, pensem...
Não são quaisquer umas. Não caríssimos!
Elas estão esculpidas em jacarandás: madeira de lei.


**************************************

Até às Doideiras.

4 comentários:

Marcelo F. Carvalho disse...

Vais, a madeira que encapa os políticos não é madeira-se-dar-em-doido, é madeira que dá em qualquer um, louco ou são, político ou não. A madeira do político é metafórica como o poema do Gil: tudo-nada cabe, foi envernizada, lustrada e brilha, cegando os homens de bem, matando os sábios. A madeira do político é erva-daninha, só não mata a poesia!
__________________
Abraço forte!

Jens disse...

É Vais, vivemos tempos sombrios, onde a poesia se faz cada vez mais necessária. Valeu!

o refúgio disse...

Vais, menina, só dois dia com o computador quebrado e você produziu pra caramba!
Excelente.
Beijos.

Vais disse...

Olá Professor,
eu tardo mas não falho, risos
sabe aqueeele saláááário mais todas as 'ajudas' alimentação, transporte, saúde, educação, lazer e cultura, por que não, né?
nada mais que a melhor madeira, tudo bem ela é resistente, mas os cupins estão aí.
um abração Marcelo

**********
Simpático Jens,
é um prazer suas visitas,
olha, quanto tempo ele escreveu destes tempos sombrios
eu acredito em outros

************
Sandrinha,
um beijo grande
estou aproveitando de algumas coisas digitadas.