sexta-feira, 20 de julho de 2007

Esses últimos dias

19/07/07
“Nestes dias
não se levanta o sol, mas teu rosto
e no silêncio surdo do tempo
teus olhos gritam”.
Silvio Rodríguez

Assisti uma vez, um vídeo de uma tribo africana e sua relação com os mortos. Na morte de alguém é uma festa só, muita bebida, comida e música e dança a noite inteira, é o velório. Quando conseguem acordar e enfim, se levantarem, vão lá e enterram o defunto, numa ressaca daquelas.
Às vezes me parece que nada mais faz sentido.
Vi pela televisão os parentes, maridos, um namorado, pais, todos sofridos, indignados, exigindo providências com relação às mortes de seus entes queridos.
E eu não consigo deixar de pensar que de uma forma ou de outra, iremos todos um dia, uma hora, em qualquer momento desses aí.
E são os mortos no acidente, e cada um como foi, tiveram a condição financeira de estarem naquele infeliz avião, e o sentimento de estranheza que está na mulher do carro esbarrado pelo avião, e são muitos e muitas que não andam de avião e morrem aos montes, e são as que se tornaram corriqueiras mortes na guerra contra o Iraque, são os mortos pelo ‘transito’, são os assassinados, e a continuidade das violentas mortes, e é o amigo Serginho que morre infartado no interior.
Nada disto é Doideira, Morte ou Pessoal.

20/07/07

No início desta tarde ao fazer uns afazeres, liguei o rádio e ouvi...
Não foi: ‘coronel Odorico mórreu’!!!
Foi: morreu nesta manhã de sexta-feira o senador acm, por causa ...
E tá ‘todo mundo’ falando que fez e aconteceu, e que apoiou mas pulou fora depois, e que quis mudança apesar de conservador, e respeito, e a importância na história da política brasileira, e a Bahia, e tal e tal...
Fiquei triste.
Não pela morte do citado acima e não, por não escrever ‘coisas que o valham’ dele, porque bateu as botas?
Do pouco que sei, o suficiente para colocar palavras nada agradáveis à sua figura.


Esses últimos dias estiveram presentes uma certa bizarrice, sentimentos de estranheza, um pouco de esquisitisse, chegando ao ridículo.
Posso dizer que nunca fui boa com as redações, por conseqüência elas também não foram comigo. Como era complicado formular as frases! O magistério no segundo grau não ajudou muito, nem as preparações para os vestibulares, até um...
Pela primeira vez havia tirado mais de oitenta por cento numa prova de redação.
AAAAAUUUUUUUUUUUUU!!!!!

E em alguns momentos penso nas ‘algazarras’, que a Marilene Felinto cita, no texto ‘Escrever para esquecer’, publicado na revista Caros Amigos de mai/07.

***************************************

D O I D E I R A

A cobra se enrosca
O piche te gruda às estradas

***************************************

Um segmento de cabelo grudou-se à História
Na capa pendiam relógios lesos de tempos variados
Um fornece. Outro industrializa. O terceiro compra.
O fornece compra de quem compra
O industrializa compra do próprio...
Beimmmm...?

***************************************

M O R T E

A N T Ô N IM O S
Mariposa e escorpião

No final todos morrem.
***************************************

CONFORMISMO
Por que? Sempre a mesma pergunta: Por que?
Os anjos cuidam
- Enterrem os fios!
Serão finos caixões. É a morte dos cabelos!
Mas que importa?
Uns morrem, outros nascem
A vida é assim...

***************************************

P E S S O A L

Demônio, fiz flores em teu garfo
De que seria?
Metal: prata, bronze, cobre
Arranquei da parede os verbos

***************************************

Tomara que aquele Eu poético
Transforme em realidade
todas as palavras saídas do mais profundo
Liberdade tão querida!
Um quarto idealizado. Um canto feito de quatro.
Onde está tu?
Não foi naquela rua dum aniversário que te achei
Daqui a seis dias tu verás um mundo diferente
Alguém te dará um tapa para a vida
Vindo dos pulmões, teu choro será palavras
Teus olhos, que ainda nada lêem, passarão pelas páginas
Na praça ou mesmo no parque, lá tu estarás
Até que chegue o momento de retornar.

***************************************
Hoje é sexta, se ainda não, aproveitem a noite, caiam na vida!
Inté

4 comentários:

o refúgio disse...

Vais, menina
Gosto do jeito espontâneo como você escreve. Gosto porque, antes de mais nada, é verdadeiro. Você me faz lembrar uma frase que li há pouco tempo do Isaac Asimov. Não me lembro exatamente da frase mas quando um jornalista perguntou como ele cconseguia escrever tantos livros, ele disse que não pensava muito na forma. Simplesmente ia escrevendo o que lhe vinha à cabeça.
Tenho a impressão que o seu texto também flui dessa maneira, não é?
Beijo grande.

Jens disse...

Ô Vais, cada vez melhor o teu almanaque. Belo, poético, inspirado, anárquico...
Um abraço.

Vais disse...

Sandrinha,
Sou sua fã, gosto do que você escvreve, seus grafites, os desenhos, adorei os puxados para o Cordel, vou dizer lá também.
E sua pergunta? risos
o négocio fica martelando na cabeça
beijos
**********
Olá simpático Jens,
Brigadão.
Tô rindo aqui do:
anárquico
desculpe a troca que fiz de Rebelde por Rebeldia lá na Toca.
beijo

o refúgio disse...

Oi, tá sem tempo pra escrever, né? Compreendo, compreendo...
Beijo grande.