segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Um dia

Mulher Pátria Brasil
Trabalhadora rica
da água, do clima, das terras, do que há em cima e das entranhas.
Moça ingênua.
Veio um Ser um dia e propôs-lhe:
- Vamos fazer uma filha?
E Pátria Brasil deitou com o Ser e conceberam Brasília.
Brasília nasce de mãos,
de calos, de sangue,
de morte, de vida.
Das britas, dos ferros, dos cimentos.
Filha legítima e registrada da mãe.
Não é menina nem moça - É mulher feita, moderna:
Patrimônio do Mundo!
- Cresça Brasília! Seus irmãos e irmãs bastardos a aguardam.
E Brasília cresce...
- Descamba Brasília! Os que puseram as mãos para fazê-la não são os mesmos que a habitam.
Aqueles que a levantaram estão pobres,
miseráveis e famintos.
Estão longe, olham de longe, sentem de perto, na pele
enquanto você é levada por carros, aviões, motoristas,
enternados,
países, continentes.
Brasília corrompida! Prostituída! Fodida!
Todo dia a comem por cada pedaço de sua mãe.
E seus irmãos bastardos?
Dia a dia clamam:
- “Mãe, por que nos abandonaste?”
Largamos tudo:
Família, filhos, viemos construir e nos reconstruir
Viramos todos parteiras para ajudá-la a parir
e nada faz você para ajudar-nos.
Encontre sua filha
Corrija sua filha
Eduque sua filha
Veja, estamos aqui
Dê-nos de comer
Dê-nos de ler
Dê-nos de viver.
E o Ser morreu.
(C-out/2000)


=> Foi enterrado hoje aqui em Belo Horizonte, o corpo de Lúcio Guterres, eletricitário sindicalista e presidente da CUT/MG. Ele lutava a 1 ano e meio contra a leucemia, sendo que no último 27/08 iniciou uma campanha de doação de órgãos e tecidos, ‘não para o Lúcio’, como falou.
Triste. Muito triste.


=> Não esqueçam, estamos em votação, é o Plebiscito da Vale!

Hasta la vitória!

4 comentários:

Anônimo disse...

Agora sim um poema pleno de unidade, coisa que anda faltando muitas vezes no campo da produção contemporânea de poesia. Gostei. Um abraço.

o refúgio disse...

Oi, Vais!

Tô ligada no plebiscito.
Lamento a morte do Lúcio :(
E que poema, menina!Parabéns!
Olha, grata pela força e carinho, viu?
Beijos.

Jens disse...

Oi Vais.
Acabei de voltar do centro da city. Votei no plebiscito. Dia lindo: céu azul, sol, calor e mulheres bonitas. Prenúncio de primavera. Minha alma canta.
Lamento pelo caso do companheiro Lúcio. Confesso que não sou, ainda, doador de órgãos (nada a ver com a razão, mas com superstições ancestrais. O companheiro Olívio Dutra se define como um marxista cristão. Eu sou um marxista cristão e também supersticioso). Mas estou mudando de posição, a partir de uma questão que me propuseram: se precisasse, eu não gostaria de receber um órgão doado? Pois é, nada como se colocar no lugar do outro.
***
Brasíla é a mãe de todos nós, fecundada na imaginação genial de JK, que maravilhosamente não temeu transformar o sonho em realidade, com o auxílio de Lúcio Costa e do comunista Oscar Niemeyer. Na Revolução Francesa, houve um momento em que Danton recomendou aos revolucionários: audácia, audácia e audácia. No final, ele perdeu a cabeça. Seu carrasco, Robespierre, foi envenenado. Mas a audácia valeu a pena. Afinal, ali inauguraram o estado moderno, cujas premissas valem até hoje. O Brasil precisa disso: sonhadores com audácia de transformar seus sonhos em realidade. Lula, por exemplo, poderia adotar este comportamento radical no caso da transposição das águas do Rio São Francisco. A nossa era necessita de gigantes.
Um beijo.

Vais disse...

Olá Jens,
crendice popular e superstição pegam mesmo, eu não posso ver um chinelo virado, a bolsa no chão já não importo mais, fazer o que?
Simpático, sobre o poema, foi escrito ém 2000, nesse ano e foi em outubro que fecharam a Santê, eu tinha uma relação muito próxima com os anarco-punks, eles faziam um programa na rádio.
Na época não pensei nos idealizadores, nem agora depois de dar a unidade que o camarada Professor citou, e eu só tive a noção desta unidade depois que ele falou. Pensei mais em quem botou a mão na massa em tempo integral e nos que foram pra lá depois de pronta.
Antes do Ser era Homem e não havia coerência pois ele estava sumido do texto, dai fui colocá-lo lá no final.
Jens, vou discordar sobre os gigantes, penso que precisamos é de mais unidade, um gigantão talvez de muitos braços, muitas pernas, muitas cabeças, muitos corpos, um bichão!!!
bração

Halem brigadim e abraço

Sandrinha, tamos ai, em pé sem cair, deitado sem dormir,rs...
bejão